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O objetivo deste trabalho é ajudá-lo no estudo para o exame da Anpec. A preparação para a prova envolve tanto o estudo da teoria quanto a resolução de exercícios. Neste instante, iremos nos concentrar neste último aspecto, através de orientações gerais a respeito da maneira pela qual devemos abordar os exercícios e o estudo do conteúdo em geral.

Para que o aluno tenha um desempenho satisfatório no exame, é importante que o tempo de estudo seja alocado de forma econômica. Para tal, segundo um resultado fundamental da própria teoria econômica, devemos igualar o benefício marginal com o custo marginal de cada tipo de estudo. Pela nossa experiência, existem alunos com a tendência imediatista de se dedicar apenas aos exercícios e negligenciar o estudo da teoria, considerada como já estudada. O erro desta estratégia consiste no 'desperdício' dos exercícios. Estes devem servir para checar a compreensão do assunto e desenvolver a habilidade de solução de problemas, que na prova serão diferentes. O aluno que só estuda os exercícios conhece tudo sobre o que caiu nas provas passadas, mas é incapaz de resolver os da prova que importa... Por outro lado, existem alunos que negligenciam os exercícios em favor da teoria. Neste caso, por sua vez, corremos o risco de descobrir quais são nossas dúvidas apenas quando elas aparecerem na prova. O exame dos exercícios, por sua vez, é de extrema utilidade, na medida em que as provas tendem a seguir o padrão das provas anteriores. Quanto menos nos depararmos com 'novidades' no exame, melhor. A estratégia que sugerimos é então a seguinte:

Em primeiro lugar, estude a teoria. Escolha um livro rico em detalhes e faça resumos dos tópicos centrais (fórmulas e gráficos. Não há tempo para textos longos!). Faça em seguida os exercícios do próprio livro e retorne ao texto para sanar as dúvidas. O estudo de uma disciplina é como pintura de parede: ocorre por 'mãos'. Depois dessa primeira mão, deixe secar e estude outra matéria. Quando voltar para o resumo, as idéias estarão mais assentadas, mas ainda não muito fixas. Sugiro então um livro mais resumido, com os tópicos principais (ou o desprezo pelos capítulos do livro anterior que não são fundamentais). Depois dessa segunda mão, resolva os exercícios das provas anteriores (sem olhar as apostilas com as soluções antes!). Volte para a teoria, tente de novo e só ai leia a solução ou pergunte para professores e colegas. Assim, estaremos extraindo o maior benefício possível de cada exercício.

Volte sempre aos resumos. Na prova, além dos exercícios numéricos, existem muitos exercícios conceituais. Em vários deles, não se pede raciocínios complexos, mas faz-se apenas uma verificação se o aluno está familiarizado com o assunto. Como o tempo é precioso, não deixe para pensar na hora. Quanto mais o assunto estiver incrustado em sua memória (pelo estudo repetido da teoria e exercícios), menos tempo e energia é gasto. Em microeconomia, é crucial que o aluno saiba traçar as curvas de custo e os gráficos associados à competição e monopólio sem pensar duas vezes. Para não se confundir, quando perceber que a questão é, digamos, sobre custos, desenhe o gráfico antes de ler as alternativas. Existem muitas questões que dirão apenas ' em tal trecho a curva tal está acima da curva tal' ou 'tal curva é crescente e côncava'.

Nas questões numéricas, treine bastante com exercícios antigos. O método de solução de exercícios de, digamos, um oligopólio de Cournot ou a maximização de utilidade é o mesmo para cada tópico, de forma que o treino prévio não só aumenta a probabilidade de resolver uma outra questão do assunto, mas também reduz o tempo de resolução.

Ainda sobre o tempo, não perca tempo com questões complicadas no início da prova. Isso ocorre quando o aluno pensa 'eu conheço esse assunto e tenho que resolver isto'. Quando se percebe que o tempo passou, perde-se confiança e ficamos nervosos com o pouco tempo restante. Faça então as questões mais fáceis para você primeiro, geralmente aquelas conceituais mais diretas.

Durante os meses que antecedem a prova, procure estudar bastante, mas fique sereno. A ansiedade nos torna burros e sem memória! Dá uma sensação de que estudamos uma coisa, mas entrou por um ouvido e saiu por outro. Não desespere: reveja sempre os resumos. No final da preparação, muitas vezes é melhor recordar o que já sabemos (e esquecemos) do que investir tempo em um assunto novo, pois o nosso 'capital intelectual' deprecia muito rápido! Independente disso, quanto mais calmos, mas aprendemos e retemos.

Finalmente, estude bastante! o seu desempenho na Anpec provavelmente será proporcional ao número de 'horas-cadeira' que passamos estudando.

Após essas considerações gerais sobre o estudo, vejamos algumas "dicas‟ sobre a resolução da prova propriamente dita.

A prova é no formato de testes cujas alternativas devem cada uma ser assinaladas como verdadeiras (V) ou falsas (F). Cada alternativa assinalada incorretamente anula uma certa. A razão disso é que, como existem apenas duas possibilidades em cada item (V ou F), a tendência seria acertar algo como metade da prova sem estudar se "chutarmos" tudo V ou F. Algumas questões, porém, pedem que um valor seja calculado e assinalado no gabarito. Neste caso, um erro não anula um acerto. Dadas essas regras, algumas observações devem ser feitas:

A mais óbvia é: nunca chute! Você corre o risco de tirar uma nota negativa. Quem vai bem na prova não acerta tudo ou quase tudo. Assinale apenas aquilo que tiver certeza. Um "chute bem educado‟ pode arruinar aquilo que você já sabe. Por mais que saibamos disso, ainda assim caímos em tentação... No meu caso particular, lembro-me que minhas maiores notas foram naquelas matérias que eu sabia menos! (Não conclua disso, falaciosamente, que quanto menos estudar melhor...). Ainda em relação a isso, resista especialmente à tentação de querer responder uma questão cujo assunto você domina completamente, mas cuja ambigüidade do enunciado torna a resposta incerta. A tentação ocorre porque é frustrante não acertar apenas porque a prova foi mal escrita.

Porque as questões são muitas vezes ambíguas? Ao contrário dos testes convencionais com alternativas mutuamente excludentes e apenas uma alternativa correta, o que reduz significativamente a ambigüidade do enunciado, as questões da ANPEC são freqüentemente sujeitas a interpretações diferentes. Além de textos mal escritos, isso ocorre pela confluência de dois fatores: ao mesmo tempo em que os enunciados são bem curtos, boa parte dos resultados da teoria econômica, pela complexidade de seu objeto de estudo, depende de um grande número de hipóteses auxiliares. Não dá portanto para explicitar todas as condições para que uma frase seja verdadeira. Então, leia com atenção o enunciado e resista à tentação de responder se o enunciado for ambíguo.

Em relação a esse problema, duas coisas podem ocorrer:

1) o examinador quer saber se o aluno conhece uma exceção e a frase é então falsa.

2) ou o examinador assume o caso geral e simplesmente não pensou em todas as hipóteses auxiliares para que a frase seja verdadeira. Pensando em alguma dessas condições você assinalaria F, mas no gabarito é V. Exemplo:

A frase : "em equilíbrio a TMS se iguala aos preços relativos" é verdadeira ou falsa? Como são bem estudadas as exceções, como soluções de canto ou curva de indiferença não diferenciáveis, é evidente que a frase é incorreta. Mas em uma frase como "se o preço aumentar, a quantidade vendida diminui, mas a receita pode aumentar o diminuir conforme a elasticidade da demanda" seria exagero pensar: "Ei! a primeira parte da frase está errada porque existem os bens de Giffen que contrariam essa afirmação!‟ Evidentemente o examinador não estava pensando nessa possibilidade, e queria apenas cobrar a relação entre elasticidade e receita.

Assim, rigorosamente, sem especificar todas as hipóteses auxiliares, todas as alternativas seriam falsas! Entretanto, quanto mais você estudar a matéria, mais fácil será distinguir se o examinador toma aquela hipótese auxiliar como evidente ou se está pensando em exceções.

Não fique nervoso então com esse problema. Fazendo exercícios e estudando a matéria, o aluno se exercitará na arte de distingir as "pegadinhas‟ do examinador do caso no qual você está apenas vendo "pelo em ovo‟ e não se trata de pagadinha alguma. Sempre pense nas hipóteses auxiliares. Embora sempre envolva uma avaliação de risco, dependendo da interpretação do texto, podemos acertar a maioria das vezes.

Uma boa dica para detectar a intenção do examinador é prestar atenção para termos como "toda vez‟, "nunca‟, "qualquer‟ ou "sempre‟. Quando esses termos ocorrerem, fiquem atentos às exceções. É provável que a afirmação seja falsa.

De vez em quando, um examinador desatento confunde a prova no formato V ou F com os testes convencionais. Existem questões numéricas que pedem, por exemplo, para calcular o lucro de equilíbrio. Cada alternativa então é um valor de lucro diferente. Ora, logicamente, como apenas uma resposta é correta e as outras falsas, vale a pena chutar tudo F, de maneira que o único erro será compensado por um acerto e ainda temos 3 acertos de graça, sem saber nada sobre a questão. Embora esse erro seja cada vez mais infreqüente, procure examinar se a veracidade uma alternativa não implica a falsidade ou veracidade de outra e vice-versa. A sua resposta não pode ser logicamente contraditória!

Leias as alternativas com atenção. Ocorre freqüentemente de lermos uma (geralmente longa) definição correta na qual apenas uma palavra está fora do lugar. De vez em quando é difícil pensar no significado da frase resultante. Sem tempo, é melhor notar que existe uma palavra trocada em uma afirmação conhecida e assinalar falso. Ocorre de vez em quando que a frase embaralhada, por sua vez, seja correta por acaso! Neste caso, o gabarito estará assinalando uma resposta errada.

Atente também para duas afirmativas corretas isoladamente, sendo que uma delas é usada para justificar a outra, e essa relação não segue. A leitura rápida pode confundir o candidato.

Estudo os sinônimos de termos técnicos. Muitas vezes deixamos escapar uma questão fácil porque não sabíamos que função de produção de Leontieff na verdade é usado como sinônimo de complementos perfeitos ou "taxa de substituição econômica‟ é simplesmente igual a preços relativos ou ainda ,receita média‟ no lugar do preço.

Ocorre com freqüência o uso de uma linguagem "barroca‟, cheia de voltas. Reduza as duplas negações a afirmativas, substitua os "receita média‟ por preços quando for o caso, e troque o termo "não positivo‟ pelo símbolo ,o que facilita a leitura da frase.

Finalmente, reserve algum tempo para estudar o básico da lógica simbólica. Como as afirmações da prova são verdadeiras ou falsas, o candidato precisa saber quais são as formas de refutar uma afirmação (mostrar que ela é falsa). Em seguida, resumiremos as relações e termos lógicos que podem auxiliar o candidato na tarefa de falsificar as alternativas propostas.